Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade. A fim de descrever esse desenvolvimento, tal como se processou em mim, não posso servir-me da linguagem científica; não posso me experimentar como um problema científico.
O que se é, mediante uma intuição interior e o que o [ser humano] parece ser sub specie aeternitatis só pode ser expresso através de um mito. Este último é mais individual e exprime a vida mais exatamente do que o faz a ciência, que trabalha com noções médias, genéricas demais para poder dar uma ideia justa da riqueza múltipla e subjetiva de uma vida individual. Assim, pois, comecei agora, aos oitenta e três anos, a contar o mito da minha vida. No entanto, posso fazer apenas constatações imediatas, contar histórias. Mas o problema não é saber se são verdadeiras ou não. O problema é somente este: é a minha aventura a minha verdade?
(ANIELA JAFÉ, Memórias, Sonhos, Reflexões, Ed. Nova Fronteira)
O processso, do qual Jung submeteu a si mesmo para realizar seu inconsciente, ele mesmo denominou “Processo de Individuação”. Quando partes de nossa psique encontram-se desconhecidas, não vividas, há um sintoma de vazio, de falta de sentido para a vida, de crise de identidade, crise de idade, da falta de um caminho espiritual e de encontrar um salvador.
Tornar-se “individuado”, no entanto, apesar de levar a entender que torna-se inteiro, essa inteireza é em parte um processo que não há fim, propriamente dito, mas interrompido pela morte. Nossa psique não admite que iremos morrer e levamos a vida até o último dia tentando encontrar essa autorrealização, de querer tornar-se “Si-mesmo” e enfim encontrar a essência da alma, a missão da sua existência.
Nesse processo, o de individuação, só podemos contar conosco mesmo, o que quero dizer, só nós podemos determinar qual a jornada, como é o caminho e para onde ele nos leva. Aliados surgem no decorrer de nossa própria história, de nosso mito, como um professor, um amigo, um terapeuta ou um guru, mas eles só fazem é revelar nossos poderes e força diante de uma tarefa, de início, temorosa e aparentemente maior que nós.
(Wanderson, psicólogo junguiano)