Sobre o Eneagrama
Primeiramente, é bom deixar claro: O Eneagrama serve como um sistema de autoconhecimento e não substitiu a psicoterapia realizada pelo psicólogo.
Alguns terapeutas (sem formação acadêmica¹ [leia nota no radapé]) realizam terapias com Eneagrama visando o autoconhecimento e o desenvolvimento das dificuldades apresentadas para cada tipo, porém, não há, até o momento (2023) comprovação científica da sua eficácia contra desordens graves de personalidade e comportamento. O melhor método, comprovado cientificamente, para desenvolvimento e tratamento de desordens psíquicas e desajustes de personalidade, é e continua sendo a psicoterapia realizada por psicólogo.
Dito isso, o Eneagrama é uma das mais aceitas e estudadas vertentes que aprofundam o conhecimento sobre a personalidade humana.
O Eneagrama é um sistema de tipologia de personalidade que descreve nove diferentes tipos fundamentais de personalidade e seus padrões de comportamento, motivações, medos e pontos fortes. Cada um desses nove tipos é representado por um número e tem características distintas associadas a ele. O termo “eneagrama” deriva do grego “ennea” (nove) e “gramma” (ponto ou figura), referindo-se à forma geométrica de nove pontos conectados em um círculo.
A origem precisa do Eneagrama é incerta, mas muitos acreditam que ele tem raízes antigas, possivelmente relacionadas a tradições espirituais e filosóficas, como o sufismo, o cristianismo primitivo, o misticismo judaico e as filosofias gregas. No entanto, o Eneagrama como é conhecido hoje em termos de tipologia de personalidade foi popularizado no século XX por diversos professores, autores e psicoterapeutas.
Oscar Ichazo (1931 – 2020) foi o filósofo boliviano, que fundou uma Escola espiritual, o Instituto Arica (Chile). Em 1968 desenvolveu gradativamente o que ele chamou de “Eneagrama da Personalidade” e foi em 1970, através de um retiro espiritual, que o próprio Ichazo conduziu, que o eneagrama foi transmitido para Cláudio Naranjo, que iniciou seu profundo processo de busca espiritual, bastante influenciado por Oscar Ichazo e outros mestres.
Cláudio Naranjo (1932 – 2019) foi um médico psiquiatra e terapeuta, que importou a sabedoria do enagrama para o campo da psicologia humana e formulou então a psicologia dos eneatipos. Como uma ferramenta que fornece transformações profundas e criativas em nosso funcionamento psíquico.
Cada um dos nove tipos do Eneagrama tem um conjunto específico de características, padrões de pensamento, emoções predominantes, pontos fortes e desafios. Os tipos são geralmente descritos em termos de seus principais traços e como eles interagem com os outros tipos. O Eneagrama não apenas descreve as características superficiais, mas também explora as motivações profundas e os caminhos de crescimento para cada tipo.
Embora o Eneagrama seja amplamente utilizado como uma ferramenta de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, é importante observar que sua validade científica é controversa. Algumas pessoas encontram valor ao usar o Eneagrama para entender melhor a si mesmas e os outros, enquanto outras o consideram como uma abordagem mais espiritual ou esotérica.
Para determinar qual é a sua personalidade no Eneagrama, leve em consideração conhecer todos os 9 Tipos. A partir disto, há sempre um que sobressai aos demais. É um trabalho de autoconhecimento, às vezes é necessária a ajuda de um terapeuta para facilitar a tarefa.
A partir do momento que você sabe a qual personalidade pertence, há muito material de fonte confiável na internet para estudar sua personalidade, conhecer suas características, pontos fortes, pontos fracos, vício emocional, ideia santa, mecanismo de defesa, padrões de comportamentos, motivação principal, crescimento e desenvolvimento, ponto cego e armadilhae etc, conforme afirmam os grandes estudiosos do Eneagrama.
E porque um psicólogo usa ou pode usar o Eneagrama?
Compreendendo as origens do Eneagrama e as características deste sistema, um psicólogo pode usar de uma abordagem teórica (científica) da Psicologia para usar o Eneagrama como técnica. Damos exemplos de algumas teorias da Psicologia que podem utilizar o Eneagrama:
- Psicologia Analítica – Psicologia fundada por Carl Gustav Jung (suíço; 1875 – 1961) também chamada de Psicologia Junguiana; traz colaborações como os conceitos de Arquétipos, Símbolos e Complexos.
A partir desta Psicologia, alguns estudiosos veem paralelos entre os conceitos junguianos e os ensinamentos do Eneagrama, o principal deles é que os nove tipos do Eneagrama podem ser vistos como arquétipos de personalidade, representando padrões fundamentais e recorrentes de comportamento, pensamento e emoção. Além do mais, os padrões de comportamento associados a cada tipo podem ser vistos como complexos psicológicos que moldam a forma como uma pessoa percebe e interage com o mundo ao seu redor. Sendo assim, aplicar o Eneagrama pela Psicologia Analítica é totalmente de acordo com o compromisso científico do psicólogo.
- Psicologia Transpessoal – A partir de Abraham Maslow (americano; 1908 – 1970), psicólogo humanista e termo cunhado por Stanislav Grof (tcheco residente no EUA; 1931 – ). A Psicologia Transpessoal reconhece que os seres humanos têm uma dimensão espiritual e busca integrar essa dimensão à compreensão científica da psicologia. Ela se baseia em abordagens holísticas e integra múltiplas tradições espirituais, filosóficas e culturais para investigar e compreender a natureza da consciência e da existência humana.
A psicologia transpessoal considera o Eneagrama como uma ferramenta poderosa para a autoconsciência e o desenvolvimento pessoal, pois permite uma profunda investigação dos padrões de pensamento, emoção e comportamento que influenciam a experiência humana; como um sistema dinâmico que vai além das identidades e personalidades individuais, buscando compreender a natureza essencial do ser humano e seu potencial de crescimento espiritual. Na perspectiva transpessoal, o Eneagrama é utilizado como um mapa para a transformação pessoal e o autoconhecimento. Ele ajuda os indivíduos a identificar padrões inconscientes e limitantes em seu pensamento e comportamento, facilitando a jornada de integração e crescimento.
Essas duas teorias de Psicologia é só uma pequena amostra de como o Eneagrama pode ser usado cientificamente como técnica no exercício do psicólogo, pois existem dezenas de abordagens em Psicologia e todas estão pautadas dentro da ética e do método científico.
Sendo assim, e estando de acordo com o Código de Ética do Psicólogo, estabelecido pelo Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) o psicólogo pode utilizar o Eneagrama como técnica dentro de sua teoria psicológica atuante.
O psicólogo Wanderson (CRP BA 15839) é formado em Psicologia (2009), atua dentro da abordagem da Psicologia Analítica e tem formação pelo FACE (formação em analista comportamental em Eneagrama) pela Escola Meda (2023) bem como estuda Eneagrama desde 2015.
Entre suas descobertas, está a de que o Eneagrama não só contribui para a melhor compreensão da personalidade humana como também é notório o quanto tem melhorado o processo de autoconhecimento, autodescoberta e autotransformação de seus pacientes.
¹terapeuta é uma ocupação ou um ofício regulamentado pelo CBO (Classificação Brasileira de Ocupações); CBO 3221-25 – Terapeuta Holístico, onde a exigência mínima é que a pessoa saiba ler e escrever e interpretar textos, ou seja, nível de ensino fundamental a médio. Também, para a formação de um terapeuta, segundo a legislação brasileira, basta o interessado buscar conhecimento autodidático; estudar por conta própria, como fazem a maioria dos astrólogos, tarólogos e terapeutas esotéricos; bem como estudar em uma escola de curso técnico, sem necessidade de diploma ou certificado de conclusão de curso. O terapeuta pode utilizar-se de conceitos e técnicas ditas não científicas, desde que sua abordagem não interfira ou piore a saúde mental e física de seu paciente ou invalide, contraponha ou confronte as terapias ditas científicas da área da saúde (medicina, nutrição, psicologia etc.) e desde que não categorize charlatanismo e crime de estelionato (promessas falsas de cura ou qualquer resultado e cobrança exorbitante do serviço.